sexta-feira, 23 de maio de 2014

A articulação da linguagem

Você já reparou como os elementos que constituem a linguagem se articulam entre si? Veja: pense em dois sons do português. Suponhamos que você tenha escolhido /m/ e /a/. Una os dois e terá /ma/. Agora associe mais dois /t/ e /o/, junte-os aos anteriores e terá a palavra mato. Está certo? Pois para formar essa palavra, você ‘articulou’ elementos da língua.
Entretanto, ninguém fala a palavra fora de um contexto. Dentro do processo de comunicação, ela é sempre colocada ao lado de outras palavras e gera um sentido mais amplo. Cria-se, assim, uma frase. Se continuarmos a fazer uso da palavra mato, poderíamos ter: A prefeitura tem de cortar o mato desta praça ou O mato está crescendo muito no jardim do prédio.
Essas frases também serão colocadas dentro de um contexto maior, já que ninguém diz A prefeitura tem de cortar o mato desta praça se a situação comunicativa não o exigir.
Espero que, com esses exemplos, você tenha percebido que as línguas se organizam por meio de articulações.

A diversidade de concepções

A explicação que apresentamos aqui é uma forma bastante rudimentar de tratar da articulação da linguagem. Há outros modos mais elaborados que partem de outro ponto de vista e que são tão corretos quanto  que você acabo de ler. É o caso de André Martinet, um lingüista francês (1908-1999) ligado a um movimento chamado funcionalismo linguístico.(*)
Segundo esse estudioso, uma língua natural, quer dizer, a  humana, articula-se em dois planos: no primeiro - que ele chama de ‘primeira articulação’ - encontramos as palavras, as frases e outro elemento - sobre o qual não falaremos no momento - chamado ‘morfema’. Todos eles são providos de significação, quer dizer, transmitem um sentido.
No segundo plano – ou ‘segunda articulação’ – estão elementos que, sozinhos, não têm sentido nenhum. Só criam significado quando se articulam com unidades maiores. É o caso do /m/, do /a/, do /o/ com que iniciamos nosso texto. Sós, não nos transmitem idéia nenhma.
Note que, na explicação que demos, partimos de elementos menores para chegar aos maiores. Martinet faz o caminho inverso: parte dos elementos maiores para chegar aos menores. Atualmente, esta última versão é mais aceita.
O que importa aqui, entretanto, é que você guarde essa idéia: os elementos que  constituem as línguas naturais não estão soltos; ao contrário, articulam-se  entre si. 
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(*) Só para você saber: a Linguística é uma ciência que  estuda a linguagem verbal. Ela possui muitas vertentes, ou seja, muitas formas de abordar o fenômeno lingüístico. Muitas dessas abordagens são interessantes e ultrapassam as questões referentes a falar certo / falar errado, com que estamos acostumados sempre que se fala em língua.
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Para saber mais

Existem muitos estudos que trabalham com a articulação da linguagem. Eles podem ser encontrados na mídia impressa ou na virtual. O livro de Ingedore Villaça KOCH e Maria Cecília P. de SOUZA E SILVA é apenas um deles: Linguística Aplicada ao Português: Morfologia. São Paulo: Cortez. 2011.

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