Você
já reparou como os elementos que constituem a linguagem se articulam entre si?
Veja: pense em dois sons do português. Suponhamos que você tenha escolhido /m/
e /a/. Una os dois e terá /ma/. Agora associe mais dois /t/ e /o/, junte-os aos
anteriores e terá a palavra mato.
Está certo? Pois para formar essa palavra, você ‘articulou’ elementos da
língua.
Entretanto,
ninguém fala a palavra fora de um contexto. Dentro do processo de comunicação,
ela é sempre colocada ao lado de outras palavras e gera um sentido mais amplo.
Cria-se, assim, uma frase. Se continuarmos a fazer uso da palavra mato, poderíamos ter: A prefeitura tem de cortar o mato desta
praça ou O mato está crescendo muito
no jardim do prédio.
Essas
frases também serão colocadas dentro de um contexto maior, já que ninguém diz A prefeitura tem de cortar o mato desta
praça se a situação comunicativa não o exigir.
Espero
que, com esses exemplos, você tenha percebido que as línguas se organizam por
meio de articulações.
A diversidade de concepções
A
explicação que apresentamos aqui é uma forma bastante rudimentar de tratar da
articulação da linguagem. Há outros modos mais elaborados que partem de outro
ponto de vista e que são tão corretos quanto que você acabo de ler. É o caso de André
Martinet, um lingüista francês (1908-1999) ligado a um movimento chamado
funcionalismo linguístico.(*)
Segundo
esse estudioso, uma língua natural, quer dizer, a humana, articula-se em dois planos: no
primeiro - que ele chama de ‘primeira articulação’ - encontramos as palavras,
as frases e outro elemento - sobre o qual não falaremos no momento - chamado ‘morfema’.
Todos eles são providos de significação, quer dizer, transmitem um sentido.
No
segundo plano – ou ‘segunda articulação’ – estão elementos que, sozinhos, não
têm sentido nenhum. Só criam significado quando se articulam com unidades
maiores. É o caso do /m/, do /a/, do /o/ com que iniciamos nosso texto. Sós,
não nos transmitem idéia nenhma.
Note
que, na explicação que demos, partimos de elementos menores para chegar aos
maiores. Martinet faz o caminho inverso: parte dos elementos maiores para
chegar aos menores. Atualmente, esta última versão é mais aceita.
O que
importa aqui, entretanto, é que você guarde essa idéia: os elementos que constituem as línguas naturais não estão
soltos; ao contrário, articulam-se entre
si.
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(*) Só para você saber: a Linguística é uma ciência
que estuda a linguagem verbal. Ela
possui muitas vertentes, ou seja, muitas formas de abordar o fenômeno
lingüístico. Muitas dessas abordagens são interessantes e ultrapassam as
questões referentes a falar certo / falar errado, com que estamos acostumados
sempre que se fala em língua.
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Para saber mais
Existem
muitos estudos que trabalham com a articulação da linguagem. Eles podem ser
encontrados na mídia impressa ou na virtual. O livro de Ingedore Villaça KOCH e
Maria Cecília P. de SOUZA E SILVA é apenas um deles: Linguística Aplicada ao Português: Morfologia. São Paulo: Cortez.
2011.
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