Quem, por acaso, consultar a versão da obra de Rabelais disponibilizada
pela Amazon para o e-book, logo perceberá que o francês usado pelo autor difere
muito do empregado atualmente.
Para que você possa ter uma ideia, compare as duas formas de
expressão:
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francês renascentista
francês moderno português
fay ce que vouldras fais ce que voudras
(faça
que quiser)
toute leur vie estoit toute leur vie était (toda sua vida)
se levoient
du lict
se levaient du lit
(se levantavam da cama)
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Essas alterações ocorrem porque, como todos sabem, a língua
não é estática. Ao contrário, por ser uma manifestação humana, ela muda
constantemente, embora nós, como usuários, nem sempre nos demos conta de tal
fenômeno. Na verdade, tais mudanças acontecem lentamente, mas podem ser
sentidas – quando são – de uma geração a outra. Compare sua forma de falar com
a de seus avós, por exemplo. Certamente eles não fazem uso de um modo tão
descontraído como o seu na hora de se expressar!
Esse fato se verifica em todas as línguas. O português,
portanto, não foge à regra. Nele existem distinções semelhantes às que encontramos
no francês. Leia o trecho citado por CHAGAS (2002: 143). Trata-se de um texto
do século XVII:
Do que succedeo na Bahya, sendo
Capitão Mor, Francisco Nunes Marinho de Eça ...
E note que estamos tratando apenas da língua escrita e de um
tipo de registro: o culto! Há outras formas de diversificação linguística além
dessa, que é chamada histórica (ou diacrônica, se quiser um termo mais
especializado). Há a social ou diastrática (cada estrato da sociedade
possui uma forma de expressão: os advogados usam a língua de um modo; os
médicos, de outro); há a geográfica ou
diatópica (pense na fala de um
português e na de um brasileiro; na de um paulista e de um nordestino).
Até de indivíduo para indivíduo há modificações no modo de se
exprimir. Pense em você atuando em diferentes situações: conversando com um
amigo; dirigindo-se a uma pessoa que possui um cargo mais alto que o seu na
empresa em que trabalha; tratando com uma criança. Certamente sua forma de
falar não é a mesma em todas as circunstâncias!
Quem estuda essas alterações na linguagem é uma disciplina
chamada sociolingüística que, à
semelhança do que ocorre com as obras de Rabelais, possui muitos trabalhos
publicados sobre o assunto. Uma vez mais, o que se faz aqui é uma referência
extremamente simples do muito que se pode consultar sobre o tema.
Caso queira saber mais, leia:
ALKMIM, Tânia. 2000. Sociolinguística. In: MUSSALIN, Fernanda
e BENTES, Anna Christina (org). Introdução à lingüística. São Paulo:
Cortez. Vol. 1.
CHAGAS, Paulo. 2002. A mudança lingüística. In:
FIORIN, José Luiz (org). Introdução à linguistica. Objetos teóricos. São Paulo:
Contexto.
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