Embora muitos cometam
o engano, a pesquisa sociolinguística não é uma atividade simples de ser
executada. Um trabalho desse gênero, se se pretende bem feito, requer muitos
passos e cuidados.
Inicialmente, é
preciso ter em mente que existe uma relação entre língua e sociedade, pois o
desempenho linguístico não está dissociado da pessoa que fala, da pessoa com
quem ela fala; do momento que vive nem lugar em que está. Esses fatores fazem
com que o objeto de estudo da pesquisa, isto é, as relações língua e sociedade, seja bastante
heterogêneo. Aparentemente caótico, ele precisa ser sistematizado, o que requer atenção e seriedade de trabalho.
Outro problema que
se coloca é a delimitação do campo de pesquisa, ou seja, a escolha da célula
social a ser analisada já que é
impossível, de uma só vez, examinar a fala de toda uma sociedade.
Aspecto mais
delicado é a seleção do informante. Quando o objetivo é determinar as
características da fala de uma comunidade primitiva, pouco exposta às mudanças
do mundo moderno. por exemplo, o cuidado deve ser maior, porque, nesse caso, o
informante deve ter nascido na região, não pode ter se ausentado dela por muito
tempo nem tido muito contato com pessoas de outras comunidades, capazes de
alterar sua forma de expressão.
Recolher os dados
requer, igualmente, cuidados especiais. Recomenda-se que o pesquisador deixe o
informante à vontade e não lhe diga, de início, que a conversa visa a estudar
sua fala. Tal declaração poderia despertar a desconfiança de que seriam apontados
“erros” de língua, e o pesquisado, diante dessa hipótese, se esforçaria para
adequar sua fala ao padrão culto da língua, falseando dessa forma os dados a
serem recolhidos.1
Os estudiosos
recomendam que, para fazer com que o entrevistado se sinta à vontade, seja-lhe
solicitada a narrativa de alguma experiência pessoal. Assim, preocupado em ser
fiel a sua memória, será mais difícil que ele não se esforce por aclimatar sua
forma de expressão àquela usada pelo pesquisador ou por alguém escolarizado.
Esses cuidados fazem
com que o observador viva, com freqüência, uma situação paradoxal: ele precisa
participar da comunidade para coletar o maior número possível de dados mas, ao
mesmo tempo, não pode perturbar a naturalidade do encontro.
Feito o recolhimento
dos dados, o pesquisador deverá descrever
cuidadosamente a variável em exame para que ela possa ser inserida em pesquisas
de caráter mais amplo, interessadas, por exemplo, em construir o mapa linguístico
de uma região.
Nos trabalhos mais
complexos, há outras tarefas a serem cumpridas, como elaborar envelopes de
variação – de que devem constar descrições das variantes estudadas -,
identificar os fatores linguísticos e não linguísticos 2 que agem
sobre as variantes, projetar as transformações que, em uma dimensão histórica,
podem ocorrer sobre uma fala entre outras.
Se houver interesse
em obter mais informações sobre o assunto, recomenda-se a leitura de um pequeno
livro de Fernando Tarallo, A pesquisa
sociolinguística, que faz parte da série “Princípios”, organizada pela
editora Ática.
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1 Na
verdade, o padrão culto da língua é a variante que menos interessa à pesquisa
sociolinguística devido a seu caráter homogêneo. Por ser a norma oficial, a
empregada na comunicação de todo o país, ela não apresenta as particularidades
que as demais variantes oferecem.
2 Como exemplo de um fator linguístico que pode influenciar uma variante, podemos citar a
pronúncia do /l/ em final de sílaba: em alguns contextos, o fonema é emitido
como consoante, caso do Rio Grande do Sul; em outros, ele é articulado como a
semivogal /w/, o que ocorre em São Paulo.
Escolarização,
idade, sexo podem ser citados como fatores não linguísticos capazes de agir
sobre a fala de um indivíduo.
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