I Conforme já foi dito, podemos reconhecer dois tipos de informações implícitas: os pressupostos e os subentendidos. Sabe-se igualmente que a presença ou ausência de uma marca lingüística é o sinal convencionado para distinguir um fenômeno do outro: na pressuposição, um termo conduz a uma interpretação da frase, leitura não circunscrita àquela indicada na superfície; já no subentendido, esse termo não ocorre.
Ducrot emprega outras palavras para distinguir um e outro tipo de informação implícita Veja como ele encaminha a questão, na página 41 do livro O dizer e o dito (1987): a pressuposição é parte integrante do sentido dos enunciados,ou seja, está inscrita neles; revela-se por meio de uma palavra; já o subentendido diz respeito à maneira pela qual esse sentido deve ser decifrado pelo destinatário, quer dizer, o que o enunciador diz poderá ser ou não devidamente entendido pelo enunciatário.
II Leia outros casos que enfocam o estudo da pressuposição.
1. Na frase, extraída do livro Lições de texto (Savioli / Fiorin) Cursei uma universidade mas aprendi muita coisa, o que está pressuposto? Que palavra conduz a essa interpretação?
2. O que não pode ser pressuposto da frase seguinte: A casa continua abandonada. Por quê?
3. Identifique o pressuposto da frase seguinte: Meu vizinho deixou de bater nos cachorros. A seguir, aplique sobre a mesma frase a negação e a interrogação. O pressuposto que ela encerra foi alterado?
Pode-se concluir, então, que nem a interrogação nem a negação __________________________
4. Reconheça os pressupostos expressos pelos termos grifados.
a. Não vamos permitir que continuem ameaças prejudiciais a nossos trabalhos.
b. Dizem que muitos de nossos políticos utilizam o dinheiro do contribuinte para financiar constantes falcatruas.
c. Por vezes somos forçados a tomar atitudes de que não gostamos.
d. Será ele um bom professor?
5. Identifique os pressupostos que existem nas duas formulações das frases.
a. A juventude que é saudável gosta de se divertir.
b. A juventude, que é saudável, gosta de se divertir.
III Como vimos, para Ducrot e Anscombre, as línguas naturais não têm um fim em si mesmas. Elas sequer servem para expressar o pensamento. Todavia são importantes porque criam um espaço para a interlocução: sempre falamos para o outro, na tentativa de persuadi-lo a pactuar com nossas opiniões. Assim, como queremos convencê-lo, podemos dizer que elas constituem, em essência, o lugar de troca de argumentos.
Considerando esse aspecto pragmático da língua e não meramente sua estrutura, a Semântica da Enunciação acredita que um mesmo enunciado pode ser expresso em diferentes contextos e apresentar diferentes sentidos em cada um deles.
Por exemplo, uma frase como: Ana esqueceu o sal, pode significar, dependendo da situação em que foi emitida:
a. que Ana é a cozinheira e esqueceu de colocar o sal na comida;
b. que, em uma relação de produtos que deveriam ter sido comprados, fora marcado sal, que Ana não comprou.
IV O vínculo com situações concretas leva os estudiosos dessa linha a ser preocuparem com o exame de oposições do tipo pouco / um pouco que, embora sutis, apresentam sentidos diversos. Observe: Tenho pouca fome. / Tenho um pouco de fome.
Analise ainda esse outro exemplo: Destruíram a escola da cidade. / Destruíram uma escola da cidade.
Tais fatores devem levar o estudioso de uma língua a considerar, ao lado dos fenômenos propriamente linguísticos, aqueles de natureza sociológica e psicológica que intervêm nos enunciados. Portanto, o que importa a Ducrot e seus seguidores não é o falante, mas as influências sociais e psíquicas existentes na mensagem. Para eles, PIS, a língua é apenas a parte superficial da comunicação.
Se se interessar por essa linha teórica, veja a página anterior deste blg, onde foram indicados dois títulos bibliográficos para consulta.
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