quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A Questão do Signo na Antiguidade Clássica


Quem está familiarizado com a literatura produzida na área da linguística sabe o quanto se faz referência ao conceito de signo, associando-o, sobretudo, à matriz saussureana.1

Discussões sobre o signo, entretanto, remontam a longa data. Winfried Nöth, (professor de linguística e semiótica da Universidade de Kassel, Alemanha) em seu livro Panorama da semiótica. De Platão a Peirce (São Paulo: Annablume. 1998) faz referência a posições da cultura mesopotâmica - que floresceu 4 mil anos a.C – acerca do signo.

Segundo Nöth, os povos da Mesopotâmia acreditavam que os signos carregam mistérios, indicavam presságios, passíveis de serem interpretados pelos oráculos. Embora os gregos tivessem acrescentado vieses diferentes ao estudo do signo, Nöth acredita que, em termos, é possível identificar semelhanças entre o pensamento dos dois povos uma vez que os gregos também viram no signo algo escondido, oculto, que não poderia ser desvendado.

É o caso de Platão, que formulou uma teoria dos signos. Para o filósofo, os signos linguísticos – ou seja, as palavras - não chegam à natureza das coisas. Ao contrário, constituem apenas uma representação incompleta delas. Dessa forma, estudar a palavra não revela nada sobre a natureza dos seres, que se mantém insondável.

Esse raciocínio levanta a discussão, também secular, acerca das relações entre os signos e as coisas que eles representam: seriam essas relações convencionais ou naturais?

A tese de Platão indica a escolha pela arbitrariedade, ou seja, as palavras não possuem relação lógica com os objetos que elas nomeiam. Assim, o termo floresta, por exemplo, não passaria de uma convenção aceita por povos lusófonos para denominar um conjunto de árvores. Não haveria uma motivação natural para o uso da palavra.

A mesma posição sobre a natureza convencional do signo linguístico será defendida, na Antiguidade clássica, por Aristóteles.

Outra questão que se coloca aos interessados no assunto diz respeito à constituição do signo e, nesse quesito, os pontos de vista foram divergentes na época.2

Platão, por exemplo, possuía uma visão triádica do signo. Conforme seu pensamento, o signo seria composto por três elementos: o nome (ou ónoma), a ideia (ou lógos) e a coisa à qual ele se refere (prágma).

Assim como Platão, Aristóteles – que procurou abordar a teoria dos signos do ponto de vista da lógica e da retórica - também possuía uma concepção triádica do signo que, em seus escritos era designado por símbolo.

Entre os estóicos,3  mantém-se a visão. Para essa corrente, distinguem-se no signo: um significante, um significado (ou significação) e um objeto, ao qual o signo se refere.

Já entre os epicuristas, a concepção que prevaleceu foi a diádica.  Para eles, o signo seria composto por um significante e por um objeto. O significado, elemento imaterial, não é reconhecido como um componente estrutural.

A questão do signo, mesmo circunscrito ao pensamento grego, oferece uma série de matizes que podem interessar aos curiosos pelo tema. Nesse caso, é oportuna a leitura do livro de Nöth, citado acima. O autor oferece um panorama sobre o assunto, mas oferece indicações de aprofundamento na área.

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1 O signo é, assim como o ícone e o símbolo, um tipo de sinal, instrumento imprescindível à comunicação humana. Segundo Saussure, um dos traços que caracteriza o signo lingüístico – união de um conceito e uma imagem acústica - é o fato de ele ser arbitrário, aspecto polêmico entre os pesquisadores da área.

2 As divergências acerca da constituição dos signos se mantêm até hoje. Se nos ativermos apenas às posições de maior destaque, veremos que, para o pensamento de Saussure (1867 – 1913), o signo é diádico; para Peirce (1839-1914), é triádico. Na concepção diádica sausurreana, o signo é composto por um conceito e uma imagem acústica apenas; na peirceana, distinguem-se um representamem, um objeto e um interpretante.

3 Assim como em Aristóteles, entre os estóicos desenvolveu-se uma concepção segundo a qual o signo é fruto de um processo lógico, em que uma premissa conduz a um consequente, ou seja, a uma conclusão.
Isabelle Kock apresenta um aprofundamento sobre a concepção dos signos entre os estoicos, no artigo “Explicação Causal e Interpretação dos Signos segundo os Estoicos”, publicado em www.unicamp.br/cadernos. Professora da Universidade de Provence (Aix-Marseille I), o trabalho de Kock foi traduzido por Wladimir Barreto Lisboa.








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