Quem está
familiarizado com a literatura produzida na área da linguística sabe o quanto
se faz referência ao conceito de signo, associando-o, sobretudo, à matriz
saussureana.1
Discussões sobre o
signo, entretanto, remontam a longa data. Winfried Nöth, (professor de linguística e semiótica da
Universidade de Kassel, Alemanha) em seu livro Panorama da semiótica.
De Platão a Peirce (São Paulo: Annablume. 1998) faz referência a posições
da cultura mesopotâmica - que floresceu 4 mil anos a.C – acerca do signo.
Segundo Nöth, os povos
da Mesopotâmia acreditavam que os signos carregam mistérios, indicavam presságios, passíveis de serem interpretados pelos oráculos. Embora os gregos tivessem
acrescentado vieses diferentes ao estudo do signo, Nöth acredita que, em termos,
é possível identificar semelhanças entre o pensamento dos dois povos uma vez
que os gregos também viram no signo algo escondido, oculto, que não poderia ser
desvendado.
É o caso de Platão,
que formulou uma teoria dos signos. Para o filósofo, os signos linguísticos –
ou seja, as palavras - não chegam à natureza das coisas. Ao contrário,
constituem apenas uma representação incompleta delas. Dessa forma, estudar a
palavra não revela nada sobre a natureza dos seres, que se mantém insondável.
Esse raciocínio levanta
a discussão, também secular, acerca das relações entre os signos e as coisas
que eles representam: seriam essas relações convencionais ou naturais?
A tese de Platão indica a escolha pela arbitrariedade, ou seja, as palavras não possuem relação
lógica com os objetos que elas nomeiam. Assim, o termo floresta, por exemplo, não passaria de uma convenção aceita por povos
lusófonos para denominar um conjunto de árvores. Não haveria uma motivação
natural para o uso da palavra.
A mesma posição sobre
a natureza convencional do signo linguístico será defendida, na Antiguidade
clássica, por Aristóteles.
Platão, por exemplo,
possuía uma visão triádica do signo. Conforme seu pensamento, o signo seria
composto por três elementos: o nome (ou ónoma),
a ideia (ou lógos) e a coisa à qual
ele se refere (prágma).
Assim como Platão,
Aristóteles – que procurou abordar a teoria dos signos do ponto de vista da
lógica e da retórica - também possuía uma concepção triádica do signo que, em
seus escritos era designado por símbolo.
Entre
os estóicos,3 mantém-se a
visão. Para essa corrente, distinguem-se no signo: um significante, um significado (ou significação)
e um objeto, ao qual o signo se refere.
Já
entre os epicuristas, a concepção que prevaleceu foi a diádica. Para eles, o signo seria composto por um significante e por um objeto. O significado, elemento
imaterial, não é reconhecido como um componente estrutural.
A
questão do signo, mesmo circunscrito ao pensamento grego, oferece uma série de
matizes que podem interessar aos curiosos pelo tema. Nesse caso, é oportuna a
leitura do livro de Nöth, citado acima. O autor oferece um panorama sobre o
assunto, mas oferece indicações de aprofundamento na área.
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1 O signo é, assim como o ícone e o
símbolo, um tipo de sinal, instrumento imprescindível à comunicação humana.
Segundo Saussure, um dos traços que caracteriza o signo lingüístico – união de
um conceito e uma imagem acústica - é o fato de ele ser arbitrário, aspecto
polêmico entre os pesquisadores da área.
2 As divergências acerca da constituição
dos signos se mantêm até hoje. Se nos ativermos apenas às posições de maior
destaque, veremos que, para o pensamento de Saussure (1867 – 1913), o signo é
diádico; para Peirce (1839-1914), é triádico. Na concepção diádica sausurreana,
o signo é composto por um conceito e
uma imagem acústica apenas; na
peirceana, distinguem-se um representamem,
um objeto e um interpretante.
3 Assim como em Aristóteles, entre os
estóicos desenvolveu-se uma concepção segundo a qual o signo é fruto de um
processo lógico, em que uma premissa conduz a um consequente, ou seja, a uma
conclusão.
Isabelle
Kock apresenta um aprofundamento sobre a concepção dos signos entre os estoicos,
no artigo “Explicação Causal e Interpretação dos Signos segundo os Estoicos”,
publicado em www.unicamp.br/cadernos.
Professora da Universidade de Provence (Aix-Marseille I), o trabalho de Kock
foi traduzido por Wladimir Barreto Lisboa.
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