A linguística é uma área antiga de estudo, mas foi apenas
após a publicação dos trabalhos de Saussure que ela passou a ter o status de uma ciência cujo objetivo é
focalizar a língua por meio de procedimentos rigorosos, capazes de conferir, às
conclusões a que se chega, um grau considerável de confiabilidade.
Tal visão científica não lhe subtraiu,
entretanto, o papel fundamental: ser um meio de comunicação entre os homens. Decorre
dessa premissa a obrigatoriedade de acatar como aceitável todo tipo de
formulação da língua que obtenha a compreensão da mensagem pelo interlocutor.
Em outros termos: se comunicar é uma propriedade inerente
à língua e se estruturas estigmatizadas como A gente vamos torcer para que
tudo dê certo ou As menina chegô são
entendidas pelo usuário, então...elas estão corretas.
Os lingüistas se batem por este ponto: por que considerar
frases como a que se lê acima erradas se elas satisfazem o princípio essencial
da língua?
Acontece que tais registros não são de prestígio. Pessoas
que fazem uso de estruturas como essas são taxadas de pouco conhecedoras do
idioma, de ignorantes, analfabetas... rótulos de que ninguém gosta
evidentemente.
Para resolver esse tipo de problema, a sociolinguística
defende a tese de que a língua oferece inúmeros matizes que podem – por vezes,
devem – ser adequados ao contexto em que são utilizados. Por exemplo, não teria
sentido fazer uso de uma variante com alto grau de formalismo em um encontro
entre amigos. A escolha poderia parecer pretensiosa, arrogante e afastar as
pessoas.
Mas, como já está difundido o bastante, não se pode, da
mesma forma, fazer uso de um registro excessivamente informal em situações que
requerem formalidade como é o caso de uma entrevista cujo objetivo conseguir um
emprego.
Dessa forma, embora a linguística preconize igualdade para
todas as variantes, a própria sociedade fortalece a dicotomia prestígio x estigma. Em vista desse panorama, talvez seja, de fato, caso de acatar a sugestão equilibrada da maior parte
dos estudiosos: deve-se buscar a adequação entre a variante escolhida e o contexto
em que se está, isto é, selecionar o registro que respeite o perfil do interlocutor, o momento e o local em que o ato comunicativo se realiza .
Para mais informações sobre o assunto, pode-se consultar a
obra de Dino Preti, um precursor dos estudos sociolinguísticos no Brasil. Mas
há outros trabalhos, como os de Fernando Tarallo e de Marcos Bagno, entre os
quais Preconceito linguístico, uma
pequena brochura, de leitura agradável, publicada pelas Edições Loyola.
O imprescindível, entretanto, é que o contato com o material
desenvolvido pela sociolinguística não crie ilusões no leitor que possam
fasciná-lo com propostas atraentes, inovadoras, mas que, aplicadas com descuido,
são capazes de levar a perder de vista as exigências da sociedade em relação ao
uso da língua.
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