quinta-feira, 10 de julho de 2014

Um rápido olhar sobre a evolução da escrita



Torna-se desnecessário dizer que as sociedades humanas começaram a se comunicar por meio da oralidade. O instigante é procurar saber a partir de que momento elas passaram a se interessar pela escrita. Mary Kato, em seu livro No mundo da escrita: uma perspectiva psicolinguística (Editora Ática.1990), apoiada nos estudos de Gelb, faz uma retrospectiva, que será retomada aqui de forma sucinta.

De acordo com suas informações, podemos dividir o desenvolvimento da escrita em duas grandes fases: a dos movimentos precursores e a da escrita plena. Na primeira, também chamada semasiológica1, verificaram-se produções relacionadas ao sistema pictográfico: objetos eram desenhados pelos homens primitivos sobre uma superfície qualquer com o objetivo de expressar visualmente suas idéias.

Gradativamente, esses desenhos tomaram duas direções: uma delas se encaminhou para a manifestação artística e a outra destinou-se à comunicação. Naturalmente o sistema pictográfico, de início, não pode ser considerado como uma representação da fala mas, aos poucos, passou a desempenhar esse papel.

Ao lado da pictografia e ainda relacionados aos movimentos precursores da escrita, encontram-se os recursos mnemônicos, caso dos símbolos heráldicos2 e dos registros empregados pelos indígenas para indicar as condições do tempo: eles faziam, por exemplo, pela distribuição de pedras sobre o solo.

Na fase da escrita plena, também designada como fonográfica, ou seja, aquela que registra (grafia) o som (fono), podem ser identificadas as seguintes etapas: lexical-silábica, silábica e  alfabética.

Ao examinar a etapa lexical-silábica, os pesquisadores constataram uma simplificação no traçado dos desenhos usados na pictografia, o que permitiu que eles pudessem ser submetidos a convenções: os mesmos traços passaram a representar sempre as mesmas ideias. Surgiram então os ideogramas (ou logogramas) e os desenhos deixaram de ser icônicos, ou seja, relacionados à imagem e passaram a ser simbólicos. Por exemplo, ao invés de desenhar um animal, fazia-se um traço que o representasse.

O logograma já pode ser considerado uma palavra, pois possui uma representação fonética – ligada a um som - e um significado. Essa forma de escrita se manteve em uso por muito tempo e eram prestigiados os povos que se serviam dela.

Foi o espírito pragmático dos fenícios que extraiu da escrita lexical-silábica dos egípcios – derivada dos hieróglifos – vinte e quatro símbolos que vieram a formar um silabário. De início, esse silabário era constituído apenas por consoantes, sendo as vogais apenas esporadicamente empregadas para indicar alteração na leitura de um símbolo. Por exemplo, /f/, poderia ser lido como /fa//fe//fi//fo//fu/. A língua japonesa é uma, dentre as faladas no mundo contemporâneo, que conserva o sistema silábico de escrita.

Os gregos se apropriaram do silabário fenício para formar o alfabeto, empregado por grande número das línguas modernas. Os helenos padronizaram o uso da vogal associada a uma consoante, o que fez com que a escrita silábica passasse a ser alfabética. Esses fatos ocorreram no século X a.C.

 Kato informa que, depois da transformação da escrita silábica em alfabética, nenhuma alteração significativa aconteceu na história da escrita. E acrescenta:

Embora haja inúmeras variedade de alfabeto no  mundo, que apresentam diferenças formais externas, todas ainda usam os mesmos princípios estabelecidos pela escrita grega (1990:16).

Antes de encerrar, leia uma curiosidade acerca do aprendizado da escrita pela criança: segundo Vogitsky, que estudou o assunto, para aprender a escrever, uma criança precisa, antes de qualquer coisa, descobrir que ela pode desenhar, ao lado de outras coisas, a própria fala.

Para representar a evolução da escrita, Kato apresenta (1990:13), ainda com base em Gelb, um esquema que reproduzimos aqui:

1.     Inexistência da escrita
2.     Precursores da escrita: fase semasiológica     
                  2,1, Sistema pictográfico
2.2.Recursos de identificação mnemônica
3.     Escrita plena: fase fonográfica
3.1.Lexical-silábica
3.2.Silábica
3.3.Alfabética
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1 Semasiologia  é uma palavra proveniente do grego e formada por semasía, termo relacionado ao conceito de significado + logos = estudo + ia. Trata-se de um ramo da lexicologia, ou seja, do estudo do acervo das palavras de uma língua. A semiologia focaliza o significado dos vocábulos e dele retira os significantes.

2Heráldica: estudo dos brasões.

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