Maria Lúcia Santaella
é uma professora universitária especialista em semiótica. Quando
escreveu O que é semiótica para a editora Brasiliense, ela
se propôs oferecer um panorama dos estudos realizados na área. Nas
páginas do livro, trata rapidamente do papel da semiótica – que,
a seu ver, possui um campo vasto, mas não indefinido –, faz
referência aos trabalhos dos russos,
como Marr, Bakhtin, Iuri Lotmann, e ao pensamento de Saussure.
Seu objetivo maior, no
entanto, é focalizar a teoria semiótica de Pierce (1839 – 1914).
A tarefa é, como a autora reconhece, bastante árdua, pois o
pensamento de Charles Sanders Perice é muito complexo e não aceita
ser sintetizado em algumas páginas. De qualquer forma, Santaella
apresenta uma introdução às propostas do pesquisador americano e
abre portas a quem se interessa por aprofundar os conhecimentos.
Segundo a autora,
Peirce era, antes de tudo, um cientista interessado em várias áreas
do conhecimento. Filho de um renomado matemático de Harvard, o
chamado Leonardo Da Vinci da modernidade formou-se em química pela
universidade em que o pai trabalhava, mas era estudioso consciencioso
de outros campos do saber como física, matemática, astronomia,
biologia, geologia. Na área das ciências humanas, conhecia
linguística, filologia, história, literatura, arquitetura e suas
contribuições à psicologia tornaram-no o primeiro psicólogo
experimental dos Estados Unidos da América. Todos esses interesses
eram costurados por um fio condutor: a lógica
Complementa Santaella
(1983: 22):
A
quase inacreditável diversidade de campos a que se dedicou pode ser
explicada, portanto, pelo fato de que se devotar ao estudo das mais
diversas ciências [...] era para ele um modo de se dedicar à
lógica. Seu interesse na lógica era, primariamente, um interesse na
lógica das ciências.
A professora acata o
consenso segundo o qual a semiótica peirceana – ao contrário
daquela desenvolvida por Greimas - não possui interesse prático.
Ela foi concebida a partir de um raciocínio abstrato e não
apresenta vieses de ciência aplicada. A pretensão de Peirce, ao
elaborar a teoria, foi criar conceitos gerais de signos que seriam
capazes de servir de base a qualquer ciência aplicada.
Ele acreditava que
todas as ações do ser humano – produção, realização,
expressão – pertencem à área da semiótica, ou seja, à ciência
dos signos. Esta, entretanto, não é onipotente, mas apenas parte de
um conjunto mais amplo: o filosófico, também subordinado a um
sistema mais abrangente que revela uma gigantesca arquitetura
classificatórica das ciências (op.cit.: 30).
Peirce via como
necessária uma teoria que focalizasse todas as espécies de signo,
tarefa ampla, que deveria ser assumida por um grupo de pesquisadores
o que, de acordo com Santaella, não ocorreu, uma vez que poucos
estudiosos seguiram a ambição peirceana no que diz respeito ao
estudo dos signos.
Segundo a proposta do
cientista norte-americano, deveriam ser considerados, inicialmente,
os signos que não fizessem referência à mente humana. A ideia
causou impacto na época, pois, até então, o conceito de signo
sempre fora associado ao cérebro do homem.1 Mas, se foi
revolucionária quando apresentada, acabou se incorporando aos
avanços tecnológicos e não pode mais ser vista como algo
excêntrico. Para tanto, basta lembrar que a comunicação entre as
máquinas se processa sem qualquer referência à consciência
humana. E, no dizer de Santaella (op.cit.: 76):
Isso,
para não mencionarmos as descobertas da biologia, que estenderam a
noção de signo (linguagem e informação) para o campo das
configurações celulares.
___________________________
1 Por
exemplo, quando alguém ouve a palavra mesa, compreende seu
significado porque tem, em sua mente, um conceito do que é uma mesa.
Vanda Bartalini Baruffaldi
Nenhum comentário:
Postar um comentário