sábado, 19 de julho de 2014

Um passar de olhos sobre a psicolinguística



              A Psicolinguística surgiu na metade do século passado, dizem os observadores, de um modo peculiar para uma ciência: ela foi fruto da intenção de um determinado grupo de estudiosos, o que ocorreu em tempo e espaço também determinados. Aos poucos, graças à publicação de trabalhos, à organização de congressos e encontros, ela foi fixando como uma nova área de conhecimento. Em 1953, graças ao lançamento de Psycholinguistics, um livro organizado por C.E. Osgood, T.E. Sebeok e colaboradores, os estudos ganharam  projeção. Na obra, expunha-se vasta gama de pesquisas que giravam em torno das conclusões da psicologia do aprendizado, da teoria da informação e da linguística.  

            Já na metade do século XIX e inícios do século XX, os cientistas haviam tentado unir as investigações de diferentes áreas do conhecimento quando o intuito era estudar de modo mais completo o fenômeno da linguagem. Na época, concorreram para esse objetivo conclusões da psicologia da linguagem, da neuropsiquiatria, da linguística e da psicologia.

                   No decorrer do século XX, as descobertas de Chomsky reforçaram a tese de que a linguagem é um fenômeno de alta complexidade que, de fato, demanda a concorrência de diversas disciplinas desde que se queira fazer uma abordagem mais completa. Assim, a psicolinguística foi se firmando e, não obstante a forma composta do nome, sempre se projetou como ciência independente, tendo objeto e métodos próprios de estudo.

                 As relações entre psicologia e linguística surgiram inicialmente por interesses comuns: a psicologia via na linguística a possibilidade de, por meio do conhecimento dos fenômenos da linguagem, chegar a conclusões mais precisas sobre a psique humana. Já a linguística buscava, na psicologia, apoio para entender melhor a organização dos dados da linguagem verbal.

              Segundo Greene (apud MELO, 2005: 15), a teoria da informação e a teoria do aprendizado foram, inicialmente, as duas vertentes que mais influenciaram os psicólogos em suas tentativas de aproximação com a linguística. A teoria da informação  porque acredita, em suas ponderações, ser mais importante saber se uma mensagem será transmitida do que conhecer o conteúdo que ela veicula. A teoria da aprendizagem, por seu turno, porque ela focaliza as respostas verbais como uma manifestação das respostas em geral. Esse interesse tripartite durou até a década de 60, quando Chomsky, com a teoria gerativo-transformacionalista levou os psicólogos a repensar suas propostas relacionadas ao comportamento linguístico.

           Atualmente, outras ciências fornecem dados para os estudos da psicolinguística: a epistemologia genética, a etologia – disciplina que estuda o comportamento animal - e a psicanálise, quando se preocupam com questões relativas à temporalidade e à gênese. O sujeito a ser observado sofreu um deslocamento: não se trata mais de focalizar a criança que começa a falar, mas o infante de modo geral, aí incluso  até o recém-nascido.

            Assim como outros cientistas da área, Lélia Erbolato de Melo (2005) sustenta que a psicolinguística não pode ir a reboque das conclusões de outras ciências, mas deve definir precisamente seu espaço de observação, equilibrando-o, de modo a fazer com que seu lado psicológico e linguístico tenham o mesmo peso.

        Nos dias de hoje, a psicolinguística aborda os seguintes temas: teorias da aquisição da linguagem; desvios de linguagem; questões relacionadas à compreensão e produção de língua estrangeira; processamento da linguagem; processamento de sinais acústicos da fala; relações entre linguagem e pensamento.

     Os interessados podem consultar, entre outras fontes, o artigo de Ari Pedro Balieiro Junior, 'Psicolinguística', incluído no livro Introdução à Linguística (org.: MUSSALIN, Fernanda e BENTES, Anna Christina Bentes (Cortez, 2022: pp. 171-202) ou o livro Tópicos de Psicolingüística Aplicada de Lélia Erbolato Melo (Humanitas: 2005).

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