A
Psicolinguística surgiu na metade do século passado, dizem os observadores, de
um modo peculiar para uma ciência: ela foi fruto da intenção de um determinado
grupo de estudiosos, o que ocorreu em tempo e espaço também determinados. Aos poucos,
graças à publicação de trabalhos, à organização de congressos e encontros, ela
foi fixando como uma nova área de conhecimento. Em 1953, graças ao lançamento
de Psycholinguistics, um livro organizado
por C.E. Osgood, T.E. Sebeok e colaboradores, os estudos ganharam projeção. Na obra, expunha-se vasta gama de
pesquisas que giravam em torno das conclusões da psicologia do aprendizado, da
teoria da informação e da linguística.
Já
na metade do século XIX e inícios do século XX, os cientistas haviam tentado
unir as investigações de diferentes áreas do conhecimento quando o intuito era
estudar de modo mais completo o fenômeno da linguagem. Na época, concorreram para
esse objetivo conclusões da psicologia da linguagem, da neuropsiquiatria, da linguística
e da psicologia.
No
decorrer do século XX, as descobertas de Chomsky reforçaram a tese de que a
linguagem é um fenômeno de alta complexidade que, de fato, demanda a
concorrência de diversas disciplinas desde que se queira fazer uma abordagem mais
completa. Assim, a psicolinguística foi se firmando e, não obstante a forma
composta do nome, sempre se projetou como ciência independente, tendo objeto e
métodos próprios de estudo.
As
relações entre psicologia e linguística surgiram inicialmente por interesses
comuns: a psicologia via na linguística a possibilidade de, por meio do
conhecimento dos fenômenos da linguagem, chegar a conclusões mais precisas
sobre a psique humana. Já a linguística buscava, na psicologia, apoio para
entender melhor a organização dos dados da linguagem verbal.
Segundo
Greene (apud MELO, 2005: 15), a teoria da informação e a teoria do aprendizado foram,
inicialmente, as duas vertentes que mais influenciaram os psicólogos em suas
tentativas de aproximação com a linguística. A teoria da informação porque acredita, em suas ponderações, ser mais
importante saber se uma mensagem será transmitida do que conhecer o conteúdo
que ela veicula. A teoria da aprendizagem, por seu turno, porque ela focaliza
as respostas verbais como uma manifestação das respostas em geral. Esse
interesse tripartite durou até a década de 60, quando Chomsky, com a teoria
gerativo-transformacionalista levou os psicólogos a repensar suas propostas relacionadas
ao comportamento linguístico.
Atualmente,
outras ciências fornecem dados para os estudos da psicolinguística: a
epistemologia genética, a etologia – disciplina que estuda o comportamento
animal - e a psicanálise, quando se preocupam com questões relativas à
temporalidade e à gênese. O sujeito a ser observado sofreu um deslocamento: não
se trata mais de focalizar a criança que começa a falar, mas o infante de modo
geral, aí incluso até o recém-nascido.
Assim
como outros cientistas da área, Lélia Erbolato de Melo (2005) sustenta que a
psicolinguística não pode ir a reboque das conclusões de outras ciências, mas
deve definir precisamente seu espaço de observação, equilibrando-o, de modo a fazer
com que seu lado psicológico e linguístico tenham o mesmo peso.
Nos
dias de hoje, a psicolinguística aborda os seguintes temas: teorias da
aquisição da linguagem; desvios de linguagem; questões relacionadas à
compreensão e produção de língua estrangeira; processamento da linguagem; processamento
de sinais acústicos da fala; relações entre linguagem e pensamento.
Os
interessados podem consultar, entre outras fontes, o artigo de Ari Pedro
Balieiro Junior, 'Psicolinguística', incluído no livro Introdução à Linguística (org.: MUSSALIN, Fernanda e BENTES, Anna
Christina Bentes (Cortez, 2022: pp. 171-202) ou o livro Tópicos de Psicolingüística Aplicada
de Lélia Erbolato Melo (Humanitas: 2005).
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