terça-feira, 24 de junho de 2014

As criações neológicas




Quando você está enfrentando algum problema, diz que está “em uma camisa de sete varas”?  E se sua prima comemora quinze anos, você diz que ela está completando “quinze primaveras”? Certamente, não!

Mas é importante que saiba que essas expressões - incompatíveis com nossa época - foram empregadas por nossos antepassados. Elas  são a prova de que a língua varia de acordo com a sociedade a que ela serve. Hoje esses modos de dizer caíram em desuso. Constituem o que chamamos de arcaísmo.

Na direção oposta aos arcaísmos, existem os neologismos. (Não se esqueça de que neo-  é um prefixo grego que significa novo. Veja exemplos: exame neonatal, pensamento neoliberl...). Os neologismos são, pois, elementos não dicionarizados, criados para suprir alguma deficiência do idioma que não oferece, em seu acervo, o termo necessário para expressar uma determinada ideia. Eles renovam a língua. Daí sua importância.

Dizer que os neologismos surgem como consequência de um déficit linguístico talvez seja inadequado. Por vezes, o idioma oferece o termo, mas, por algum motivo qualquer – que vai desde o desconhecimento até o espírito de rebeldia –, o  falante rejeita a opção e prefere  criar outra palavra.

Os leitores mais velhos hão de se lembrar que, há alguns anos, quando Fernando Collor de Mello era presidente e Antônio Magri seu ministro do trabalho, criou-se uma situação cômica por causa de um neologismo. O ministro usou, certa ocasião, ao responder a pergunta de jornalista, o adjetivo imexível, não encontrado nos dicionários da época.

Como era de esperar, foi ridicularizado, afirmando-se que ele, embora em alto cargo administrativo, não conhecia a língua. Certamente...Entretanto, é fundamental argumentar em seu favor que, mesmo sendo palavra inusitada, ela se formou de acordo com princípios que regulam a criação de neologismos em português.

Veja: quando você quer dizer que não consegue ler algo, di que o texto é ilegivel; se é algo que não consegue compreender, emprega a palavra incompreensível;  caso não s possa ouvir algo, afirma que o discurso foi inaudível. Perceba, portanto, que formamos palavras em português com o auxílio do prefixo i- e do sufixo –vel. Assim, imexível, ainda que um termo inusitado dentro da língua falada na época, foi formado de acordo com os padrões por ela impostos. É menos absurdo que pareceu à primeira vista.

E é assim que, em geral, se formam as novas palavras. Por mais desconhecidas que elas sejam, se quiserem entrar em determinado idioma, na maior parte das vezes, acabam se ajustando a regras que há tempos o regulam . Verbos como deletar, xerocopiar, twittar, que passaram a fazer parte do português em decorrência de inovações tecnológicas, enquadraram-se na terminação –ar, antiquissima em nossa língua (ela provém da terminação latina –are como laudare, amare).

Mas  esse é um modo pelos quais se formam os neologismos em português.Há outros processos – também antigos - que concorrem para essa renovação da língua. É o caso de expressões do tipo mulheres-bomba ou Operação Pente Fino, que aprecem nos exemplos abaixo, extraídos de jornais brasileiros:

Mulheres-bomba se explodiram em duas estações centrais. (Jornal da Tarde,
30.03.10)
A Operação Pente Fino está fazendo uma varredura nas ruas do bairro.  (Globo.com, 01.10.09)


Há muitos trabalhos consistentes acerca dos neologismos em nossa língua. Se você procura um acessível, leia o livro de Ieda Maria Alves:Nneologismo; criação lexical, que pertence à Série Princípios da Editora Ática. É um trabalho curto, atualizado, feito a partir de pesquisas da autora em jornais de nossa época.

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