Quando você está enfrentando
algum problema, diz que está “em uma camisa de sete varas”? E se sua prima comemora quinze anos, você diz
que ela está completando “quinze primaveras”? Certamente, não!
Mas é importante que saiba que essas expressões
- incompatíveis com nossa época - foram empregadas por nossos antepassados. Elas
são a prova de que a língua varia de
acordo com a sociedade a que ela serve. Hoje esses modos de dizer caíram em
desuso. Constituem o que chamamos de arcaísmo.
Na direção oposta aos arcaísmos,
existem os neologismos. (Não se esqueça
de que neo- é um prefixo grego que significa novo. Veja
exemplos: exame neonatal, pensamento neoliberl...). Os neologismos são, pois,
elementos não dicionarizados, criados para suprir alguma deficiência do idioma que
não oferece, em seu acervo, o termo necessário para expressar uma determinada
ideia. Eles renovam a língua. Daí sua importância.
Dizer que os neologismos surgem
como consequência de um déficit linguístico talvez seja inadequado. Por vezes,
o idioma oferece o termo, mas, por algum motivo qualquer – que vai desde o desconhecimento
até o espírito de rebeldia –, o falante
rejeita a opção e prefere criar outra palavra.
Os leitores mais velhos hão de se
lembrar que, há alguns anos, quando Fernando Collor de Mello era presidente e
Antônio Magri seu ministro do trabalho, criou-se uma situação cômica por causa
de um neologismo. O ministro usou, certa ocasião, ao responder a pergunta de
jornalista, o adjetivo imexível, não
encontrado nos dicionários da época.
Como era de esperar, foi
ridicularizado, afirmando-se que ele, embora em alto cargo administrativo, não
conhecia a língua. Certamente...Entretanto, é fundamental argumentar em seu
favor que, mesmo sendo palavra inusitada, ela se formou de acordo com
princípios que regulam a criação de neologismos em português.
Veja: quando você quer dizer que
não consegue ler algo, di que o texto é ilegivel;
se é algo que não consegue compreender, emprega a palavra incompreensível; caso não s
possa ouvir algo, afirma que o discurso foi inaudível.
Perceba, portanto, que formamos palavras em português com o auxílio do prefixo i- e do sufixo –vel. Assim, imexível,
ainda que um termo inusitado dentro da língua falada na época, foi formado de
acordo com os padrões por ela impostos. É menos absurdo que pareceu à primeira
vista.
E é assim que, em geral, se
formam as novas palavras. Por mais desconhecidas que elas sejam, se quiserem
entrar em determinado idioma, na maior parte das vezes, acabam se ajustando a
regras que há tempos o regulam . Verbos como deletar, xerocopiar, twittar, que passaram a fazer parte do
português em decorrência de inovações tecnológicas, enquadraram-se na
terminação –ar, antiquissima em nossa língua (ela provém da terminação latina –are como laudare, amare).
Mas esse é um modo pelos quais se formam os
neologismos em português.Há outros processos – também antigos - que concorrem para
essa renovação da língua. É o caso de expressões do tipo mulheres-bomba ou Operação
Pente Fino, que aprecem nos exemplos abaixo, extraídos de jornais
brasileiros:
Mulheres-bomba se
explodiram em duas estações centrais. (Jornal
da Tarde,
30.03.10)
30.03.10)
A Operação Pente Fino
está fazendo uma varredura nas ruas do bairro.
(Globo.com, 01.10.09)
Há muitos trabalhos consistentes acerca
dos neologismos em nossa língua. Se você procura um acessível, leia o livro de
Ieda Maria Alves:Nneologismo; criação
lexical, que pertence à Série
Princípios da Editora Ática. É um trabalho curto, atualizado, feito a partir de
pesquisas da autora em jornais de nossa época.
Nenhum comentário:
Postar um comentário