terça-feira, 3 de junho de 2014

Uma pausa para a linguagem circense

Quem vive no Brasil sabe que o circo passou a ser, nos últimos anos, entretenimento marginal. Restrito às regiões periféricas dos grandes centros urbanos, é apenas ali que, nos grandes terrenos, ainda se monta uma ou outra tenda para distrair um número cada vez menor de interessados.

Pois, apesar desse cenário ou, talvez, por causa dele realizou-se em São Paulo, na última semana de maio – mais precisamente de vinte e três a primeiro de junho – uma mostra de espetáculos estruturados em torno da linguagem circense. 

O objetivo era, segundo seus organizadores, apresentar propostas capazes de mostrar que esse tipo de expressão não estava esgotada, mas, ao contrário, poderia ser revigorada e voltar a atrair novos olhares.

Parece que os objetivos foram alcançados ao menos se se considerarem os três que passarão a ser comentados. O primeiro não trouxe grande inovação na forma, já que os números reproduziram, em grande parte, o que se conhece acerca do circo. A inovação deveu-se aos protagonistas do espetáculo, todos eles deficientes. Havia cegos, cadeirantes, mudos, surdos, que apresentaram quadros geralmente vivenciados pelos chamados “normais”.

O grupo é formado por brasileiros e ingleses e expuseram uma performance incomum a pessoas que enfrentam limitações físicas. Ressalte-se a força psicológica transmitida pelos atores que não transmitem em nenhum momento, sinal de que necessitam da piedade da plateia.

O espetáculo – que se chama Belonging – revela, como o nome indica, o desejo e o direito que têm todos de ser tratados como iguais e de participar de todo tipo de fazer da sociedade humana.

O outro grupo veio da Austrália. É o Circa. Nesse caso, encontra-se uma radical inovação na forma de se expressar do circo. Não há palhaços – embora alguns quadros busquem o cômico – nem malabares – ainda que se encontrem números que exigem equilíbrio refinado do artista. O que se encontra são ginastas particularmente bem treinados, que desenvolvem movimentos precisos, leves, próximos aos de um bailado. O espetáculo talvez se afaste, de fato, da natureza do circo, mas oferece certamente subsídios que poderão ser usados com grande efeito por  cenógrafos da arte circense.

Por fim, algumas palavras sobre o grupo espanhol que preparou uma paródia do circo tradicional. Se o início dos trabalhos gera certa desconfiança no espectador - parece que se encontrará uma mera reprodução do sempre visto - em pouco tempo se percebe que a ideia do grupo é despertar o riso, procurando destacar o ridículo de situações suficientemente conhecidas.


Parabenize-se, portanto, uma vez mais, o Sesc, cuja iniciativa de focalizar a linguagem circense provou que todas as atividades humanas – mesmo as que pareçam saturadas – podem e devem se renovar. 

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