Quem vive no
Brasil sabe que o circo passou a ser, nos últimos anos, entretenimento
marginal. Restrito às regiões periféricas dos grandes centros urbanos, é apenas
ali que, nos grandes terrenos, ainda se monta uma ou outra tenda para distrair
um número cada vez menor de interessados.
Pois, apesar
desse cenário ou, talvez, por causa dele realizou-se em São Paulo, na última
semana de maio – mais precisamente de vinte e três a primeiro de junho – uma
mostra de espetáculos estruturados em torno da linguagem circense.
O objetivo era,
segundo seus organizadores, apresentar propostas capazes de mostrar que esse tipo
de expressão não estava esgotada, mas, ao contrário, poderia ser revigorada e
voltar a atrair novos olhares.
Parece que os
objetivos foram alcançados ao menos se se considerarem os três que passarão a
ser comentados. O primeiro não trouxe grande inovação na forma, já que os
números reproduziram, em grande parte, o que se conhece acerca do circo. A
inovação deveu-se aos protagonistas do espetáculo, todos eles deficientes.
Havia cegos, cadeirantes, mudos, surdos, que apresentaram quadros geralmente
vivenciados pelos chamados “normais”.
O grupo é formado
por brasileiros e ingleses e expuseram uma performance incomum a pessoas que
enfrentam limitações físicas. Ressalte-se a força psicológica transmitida pelos
atores que não transmitem em nenhum momento, sinal de que necessitam da piedade
da plateia.
O espetáculo –
que se chama Belonging – revela, como o nome indica, o desejo e o direito que
têm todos de ser tratados como iguais e de participar de todo tipo de fazer da sociedade
humana.
O outro grupo
veio da Austrália. É o Circa. Nesse caso, encontra-se uma
radical inovação na forma de se expressar do circo. Não há palhaços – embora
alguns quadros busquem o cômico – nem malabares – ainda que se encontrem
números que exigem equilíbrio refinado do artista. O que se encontra são
ginastas particularmente bem treinados, que desenvolvem movimentos precisos,
leves, próximos aos de um bailado. O espetáculo talvez se afaste, de fato, da
natureza do circo, mas oferece certamente subsídios que poderão ser usados com
grande efeito por cenógrafos da arte
circense.
Por fim, algumas
palavras sobre o grupo espanhol que preparou uma paródia do circo tradicional.
Se o início dos trabalhos gera certa desconfiança no espectador - parece que se
encontrará uma mera reprodução do sempre visto - em pouco tempo se percebe que
a ideia do grupo é despertar o riso, procurando destacar o ridículo de
situações suficientemente conhecidas.
Parabenize-se,
portanto, uma vez mais, o Sesc, cuja iniciativa de focalizar a linguagem circense provou
que todas as atividades humanas – mesmo as que pareçam saturadas – podem e
devem se renovar.
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