quarta-feira, 18 de junho de 2014

O pidgin na República de Camarões

Chamam-se línguas de contato aquelas que surgem da necessidade de comunicação entre povos que falam línguas diferentes. Foi o que ocorreu no Brasil, na época do Descobrimento. Os portugueses encontraram aqui povos que falavam idiomas muito diferentes daquele que conheciam.

Apesar disso, um intercâmbio se impunha. Não haveria como fazê-lo se não por meio de termos e expressões que misturassem todas as línguas usadas. Emergiu, então, a chamada língua geral, que servia de meio de comunicação entre os colonizadores e os povos autóctones. Essa língua foi extremamente difundida na época e teria se tornado nosso idioma oficial se d. João Vi, aqui instalado com a família real nos inícios do século XIX, não tivesse tornado o ensino do português obrigatório nas escolas da época.

Esse novo instrumento de comunicação – também chamado pidgin - é, portanto, improvisado. Aparece de forma espontânea e não pode ser considerado uma língua,  uma vez que não possui estrutura gramatical própria. Além disso, seu vocabulário é bastante restrito, limitando-se aos termos necessários para resolver os problemas de um intercâmbio pontual. Não passa, em verdade, de uma colagem dos idiomas que a constituem.

É essa a situação do chamado franglês usado na República de Camarões. Como facilmente se conclui, ele é uma mistura do francês e do inglês, línguas dos colonizadores, ambas consideradas oficiais no país. O franglês disseminou-se nas regiões urbanas e naquelas em que o contato dos franceses e ingleses se deu de forma mais intensa. Constitui hoje forma de expressão dos cantores populares.

Por causa desse uso de dois idiomas, Camarões pretende se apresentar como um país bilíngue. Para tanto, seu governo se propõe ensinar as duas línguas nos estabelecimentos de ensino. O fato, entretanto, é que poucas pessoas falam os dois idiomas. A maior parte do povo não fala nenhum dos dois – ou domina parcialmente um deles.

Para o nativo, o francês e o inglês não passam de línguas artificiais. A que eles dominam é aquela que aprenderam no berço das inúmeras tribos que constituem o país. Em seu território se falam 231 línguas, algumas das quais possuem até manifestações literárias.

O caso de Camarões é uma prova de que as línguas oficiais – sejam elas quais forem e seja onde for que se forem impostas – não conseguem substituir aquela com que entramos em contato ao nascer, com que crescemos e que, de modo geral, nos acompanha pelo resto da vida.

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