Chamam-se línguas de
contato aquelas que surgem da necessidade de comunicação entre povos que
falam línguas diferentes. Foi o que ocorreu no Brasil, na época do
Descobrimento. Os portugueses encontraram aqui povos que falavam idiomas muito
diferentes daquele que conheciam.
Apesar disso, um intercâmbio se impunha. Não haveria como
fazê-lo se não por meio de termos e expressões que misturassem todas as línguas
usadas. Emergiu, então, a chamada língua geral, que servia de meio de
comunicação entre os colonizadores e os povos autóctones. Essa língua foi
extremamente difundida na época e teria se tornado nosso idioma oficial se d. João
Vi, aqui instalado com a família real nos inícios do século XIX, não tivesse tornado
o ensino do português obrigatório nas escolas da época.
Esse novo instrumento de comunicação – também chamado pidgin - é, portanto, improvisado. Aparece
de forma espontânea e não pode ser considerado uma língua, uma vez que não possui estrutura gramatical
própria. Além disso, seu vocabulário é bastante restrito, limitando-se aos
termos necessários para resolver os problemas de um intercâmbio pontual. Não
passa, em verdade, de uma colagem dos idiomas que a constituem.
É essa a situação do chamado franglês usado na
República de Camarões. Como facilmente se conclui, ele é uma mistura do francês
e do inglês, línguas dos colonizadores, ambas consideradas oficiais no país. O franglês
disseminou-se nas regiões urbanas e naquelas em que o contato dos franceses e
ingleses se deu de forma mais intensa. Constitui hoje forma de expressão dos
cantores populares.
Por causa desse uso de dois idiomas, Camarões pretende se
apresentar como um país bilíngue. Para tanto, seu governo se propõe ensinar as
duas línguas nos estabelecimentos de ensino. O fato, entretanto, é que poucas
pessoas falam os dois idiomas. A maior parte do povo não fala nenhum dos dois –
ou domina parcialmente um deles.
Para o nativo, o francês e o inglês não passam de línguas
artificiais. A que eles dominam é aquela que aprenderam no berço das inúmeras
tribos que constituem o país. Em seu território se falam 231 línguas, algumas
das quais possuem até manifestações literárias.
O caso de Camarões é uma prova de que as línguas oficiais –
sejam elas quais forem e seja onde for que se forem impostas – não conseguem
substituir aquela com que entramos em contato ao nascer, com que crescemos e
que, de modo geral, nos acompanha pelo resto da vida.
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