quinta-feira, 26 de junho de 2014

O linguista rebelde

Se você lê jornais, certamente já entrou em contacto com o nome de Noam Chomsky. Ele é um norte-americano de Filadélfia, que estudou linguística e filosofia na Universidade de Pensilvânia, desenvolveu pesquisas em Harvard e há mais de quarenta anos leciona no MIT. Esse seu breve currículo autoriza muitos críticos a considerarem-no o maior intelectual vivo.

A rebeldia a que o título deste texto se refere está associada a suas posições, quer políticas quer científicas. Em seu ativismo político, Chomsky, embora norte-americano, apresenta-se como um crítico ácido de muitas das medidas tomadas por seu governo. Manifestou-se, por exemplo, contra a guerra do Vietnã e até hoje discorda do apoio que os Estados Unidos oferecem a Israel. Embora judeu, Chomsky valoriza a luta dos palestinos.

Na área da lingüística, também foi um rebelde. Na década de 50, apresentou uma teoria que se opunha a crenças até então vigentes, caso do modelo que explicava a aquisição da linguagem. Altamente influenciados pelas idéias de Bloomfield, os cientistas da época acreditavam que a criança adquiria a linguagem por imitação e por movimentos de ensaio e erro: tentava imitar o modo de comunicação dos pais, errava, os pais corrigiam e, nesse processo contínuo, aos poucos, dominava a estrutura de sua língua.

Segundo Chomsky, essa é uma forma limitada de encarar o aprendizado de um idioma. Para ele, a capacidade de falar, no ser humano, é inata assim como é inata a pulsão por comer ou a habilidade de andar. Acredita ele que falar é uma competência intrínseca a nosso patrimônio genético, aprimorada à medida que a vamos entrando em anos.

Ou seja, nascemos com um dispositivo que, desenvolvido, conduz a uma maturidade linguística. Desse dispositivo consta um número finito de regras, capazes de gerar um número infinito de frases bem estruturadas, “Frases bem estruturadas” não são as construídas em conformidade com as orientações de uma gramática normativa, mas formuladas de acordo com o que aceitam os falantes de uma comunidade lingüística. Trata-se da distinção - já exposta neste blog - entre as frases gramaticais e agramaticais.

Assim, aos três ou quatro anos, qualquer criança que se desenvolveu de acordo com os padrões de normalidade pode ser considerada um adulto linguístico graças a esse aparato com o qual nasceu e que foi amadurecendo gradativamente com o convívio social.

Chomsky concebeu, a partir dessa premissa, a chamada gramática gerativa, também conhecida como universal, por ser comum a todos os homens, uma vez que parte do princípio de que todo ser humano possui as mesmas condições de aprender a falar.  Se domina uma determinada língua e não outra, é porque a comunidade linguística em que está inserido se expressa por meio da língua x. São esses traços que fazem com que o pensamento de Chomsky seja conhecido como inatismo, gerativismo ou universalismo.

Ainda que essas posições tenham causado uma revolução nos meios científicos da época – muitos sustentam que a linguística alterou o modo de ver o mundo – elas não são de todo  originais. Quem se debruçar sobre a história da linguística perceberá que o inatismo ou universalismo já fazia parte do pensamento dos filósofos da linguagem do século XVII que frequentavam o monastério de Port-Royal-des-Champs. A Grammaire générale e raisonnée foi publicada por Antoine Arnaud e Claude Lancelot em 1660 e revelava forte influência do cartesianismo de René Descartes, cuja ascendência é sentida nas propostas de  Chomsky: a gramática é um conjunto de processos mentais, comuns a todos os homens e, portanto, universais.

 Um dos livros mais acessíveis para conhecer as idéias do linguista norte-americano é o escrito por John Lyons e publicado pela Cultrix: As idéias de Noan Chomsky. Se você se interessa em aprofundar as rápidas informações registradas aqui, consulte-o.



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