Se você lê jornais,
certamente já entrou em contacto com o nome de Noam Chomsky. Ele é um norte-americano
de Filadélfia, que estudou linguística e filosofia na Universidade de Pensilvânia,
desenvolveu pesquisas em Harvard e há mais de quarenta anos leciona no MIT. Esse
seu breve currículo autoriza muitos críticos a considerarem-no o maior intelectual
vivo.
A rebeldia a que o
título deste texto se refere está associada a suas posições, quer políticas
quer científicas. Em seu ativismo político, Chomsky, embora norte-americano,
apresenta-se como um crítico ácido de muitas das medidas tomadas por seu
governo. Manifestou-se, por exemplo, contra a guerra do Vietnã e até hoje
discorda do apoio que os Estados Unidos oferecem a Israel. Embora judeu,
Chomsky valoriza a luta dos palestinos.
Na área da lingüística,
também foi um rebelde. Na década de 50, apresentou uma teoria que se opunha a
crenças até então vigentes, caso do modelo que explicava a aquisição da
linguagem. Altamente influenciados pelas idéias de Bloomfield, os cientistas da
época acreditavam que a criança adquiria a linguagem por imitação e por movimentos
de ensaio e erro: tentava imitar o modo de comunicação dos pais, errava, os
pais corrigiam e, nesse processo contínuo, aos poucos, dominava a estrutura de
sua língua.
Segundo Chomsky, essa é
uma forma limitada de encarar o aprendizado de um idioma. Para ele, a
capacidade de falar, no ser humano, é inata assim como é inata a pulsão por comer
ou a habilidade de andar. Acredita ele que falar é uma competência intrínseca a
nosso patrimônio genético, aprimorada à medida que a vamos entrando em anos.
Ou seja, nascemos com
um dispositivo que, desenvolvido, conduz a uma maturidade linguística. Desse
dispositivo consta um número finito de regras, capazes de gerar um número infinito
de frases bem estruturadas, “Frases bem estruturadas” não são as construídas em
conformidade com as orientações de uma gramática normativa, mas formuladas de
acordo com o que aceitam os falantes de uma comunidade lingüística. Trata-se da
distinção - já exposta neste blog - entre as frases gramaticais e agramaticais.
Assim, aos três ou
quatro anos, qualquer criança que se desenvolveu de acordo com os padrões de
normalidade pode ser considerada um adulto linguístico graças a esse aparato
com o qual nasceu e que foi amadurecendo gradativamente com o convívio social.
Chomsky concebeu, a
partir dessa premissa, a chamada gramática gerativa,
também conhecida como universal, por ser comum a todos os homens, uma vez que parte do princípio de que todo ser humano
possui as mesmas condições de aprender a falar.
Se domina uma determinada língua e não outra, é porque a comunidade linguística
em que está inserido se expressa por meio da língua x. São esses traços que fazem
com que o pensamento de Chomsky seja conhecido como inatismo, gerativismo ou universalismo.
Ainda que essas
posições tenham causado uma revolução nos meios científicos da época – muitos sustentam
que a linguística alterou o modo de ver o mundo – elas não são de todo originais. Quem se debruçar sobre a história
da linguística perceberá que o inatismo
ou universalismo já fazia parte do
pensamento dos filósofos da linguagem do século XVII que frequentavam o
monastério de Port-Royal-des-Champs. A Grammaire
générale e raisonnée foi publicada por Antoine Arnaud e Claude Lancelot em
1660 e revelava forte influência do cartesianismo de René Descartes, cuja
ascendência é sentida nas propostas de Chomsky: a gramática é um conjunto de
processos mentais, comuns a todos os homens e, portanto, universais.
Um dos livros mais acessíveis para conhecer as
idéias do linguista norte-americano é o escrito por John Lyons e publicado pela
Cultrix: As idéias de Noan Chomsky.
Se você se interessa em aprofundar as rápidas informações registradas aqui, consulte-o.
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