segunda-feira, 16 de junho de 2014

O que vem a ser semântica?



“Definir o objeto da semântica não é uma tarefa simples.”

É dessa forma que Roberta Pires de Oliveira1 (2001: 17) inicia seu artigo sobre a área que, tradicionalmente, estuda o significado e que, durante muito tempo, parece não ter merecido muita atenção dos estudiosos da língua.

Ao se abrir uma gramática de orientação tradicional – como a de Domingos Paschoal Cegalla 2, por exemplo – facilmente se constata que a semântica mereceu poucos cuidados do autor. É a constatação a que se chega se comparado o número de páginas dedicadas a ela e a outros componentes linguísticos como a morfologia ou a sintaxe. Na 48ª edição da citada gramática, temos seis páginas voltadas à semântica (da 310-316); 216 destinadas à morfologia (de 91 a 308) e 292 à sintaxe (de 319 a 611).

Os conteúdos abordados giram em torno de conceitos há tempos trabalhos pelo sistema escolar brasileiro: sinônimos / antônimos; homônimos / parônimos; polissemia; sentido próprio/ figurado; denotação / conotação.

A de Pasquale Cipro Neto e Ulisses Infante – Gramática da Língua Portuguesa (São Paulo: Scipione, 1997) dedica-lhe as cinco páginas do Capítulo 29, denominado Significação das palavras. Apenas.

Linguistas mais novos têm, entretanto, procurado tirar a semântica dessa posição  marginalizada a que a vinham relegando as abordagens mais tradicionais. É ainda Oliveira (2002:18) quem assegura: ...há várias formas de descrever o significado. Há várias semânticas. Cada uma elege sua noção particular de significado.

Não obstante essa gama diversificada por meio da qual se trata o assunto, a autora centra suas atenções em três abordagens: a da semântica formal, a da semântica da enunciação e a de semântica cognitiva. Trataremos das três, da mesma forma sintética com que vimos tratando os temas neste espaço.

A semântica formal antecede as demais do ponto de vista histórico: é, portanto, a mais antiga. Segundo ela, o significado na linguagem emerge a partir de sentenças estruturadas logicamente e relacionadas com o mundo objetivo.  A verdade existe no mundo, é exterior à linguagem, que é empregada para atingi-la. Se digo: O Brasil tem uma presidenta, da ótica da semântica formal, esse é um fato do mundo e a linguagem é empregada para anunciá-lo. A linguagem, consequentemente, é um meio de  nos ligar ao mundo, à verdade.

Posição oposta possui a semântica da enunciação. De acordo com o ponto de vista de Ducrot, seu idealizador, o conceito de verdade não é externo à linguagem; o mundo não existe sema linguagem. Ele apenas existe porque ela lhe dá concretude. Essa concepção aproxima a semântica de enunciação das linhas relativistas de conceber o mundo, diferentemente da semântica formal, tida como objetivista ou realista.

A semântica cognitiva, por seu turno, postula que a linguagem não possui uma relação direta com o mundo, como crê a semântica formal. Para essa abordagem, não se pode parear linguagem e mundo. Curiosamente, os seguidores da semântica cognitiva acreditam que a significação linguística é fruto dos movimentos que faz nosso corpo ao interagir com o meio que nos envolve. Por exemplo: usamos expressões relacionadas ao conceito de espaço, como aqui, ali, lá, no teatro, porque nos movimentamos, desde crianças, por vários locais: do estofado para uma cadeira; do pai em direção à mãe, etc.

Como se observa, também questões relacionadas à significação têm sido alvo de novos estudos e novas descobertas que merecem nossa atenção.
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1 OLIVEIRA, Roberta Pires de.2001. Semântica. In: MUSSALIN, Fernanda e BENTES, Anna Christina. Introdução À lingüística. Domínios e fronteiras. Vol. 2. São Paulo: Cortez, p. 17-46.                                                                           
2 CEGALLA, Domingos Pascoal. 2010. Novíssima Gramática. São Paulo: Cia Editora Nacional.
3 CIPRO NETO, Pasquale e INFANTE,Ulisses. 1997. Gramática da Língua Portuguesa.São Paulo: Scipione.



                                                                                                                          

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