“Definir o objeto da semântica não é uma tarefa simples.”
É dessa forma que Roberta Pires
de Oliveira1 (2001: 17) inicia seu artigo sobre a área que, tradicionalmente,
estuda o significado e que, durante muito tempo, parece não ter merecido muita
atenção dos estudiosos da língua.
Ao se abrir uma gramática de
orientação tradicional – como a de Domingos Paschoal Cegalla 2, por
exemplo – facilmente se constata que a semântica mereceu poucos cuidados do
autor. É a constatação a que se chega se comparado o número de páginas dedicadas
a ela e a outros componentes linguísticos como a morfologia ou a sintaxe. Na
48ª edição da citada gramática, temos seis páginas voltadas à semântica (da 310-316);
216 destinadas à morfologia (de 91 a 308) e 292 à sintaxe (de 319 a 611).
Os conteúdos abordados giram em
torno de conceitos há tempos trabalhos pelo sistema escolar brasileiro:
sinônimos / antônimos; homônimos / parônimos; polissemia; sentido próprio/
figurado; denotação / conotação.
A de Pasquale Cipro Neto e
Ulisses Infante – Gramática da Língua Portuguesa (São Paulo: Scipione, 1997)
dedica-lhe as cinco páginas do Capítulo 29, denominado Significação das palavras. Apenas.
Linguistas mais novos têm,
entretanto, procurado tirar a semântica dessa posição marginalizada a que a vinham relegando as
abordagens mais tradicionais. É ainda Oliveira (2002:18) quem assegura: ...há várias formas de descrever o
significado. Há várias semânticas. Cada uma elege sua noção particular de
significado.
Não obstante essa gama
diversificada por meio da qual se trata o assunto, a autora centra suas atenções
em três abordagens: a da semântica formal,
a da semântica da enunciação e a de semântica cognitiva. Trataremos das
três, da mesma forma sintética com que vimos tratando os temas neste espaço.
A semântica formal antecede as demais do ponto de vista histórico: é,
portanto, a mais antiga. Segundo ela, o significado na linguagem emerge a
partir de sentenças estruturadas logicamente e relacionadas com o mundo
objetivo. A verdade existe no mundo, é
exterior à linguagem, que é empregada para atingi-la. Se digo: O Brasil tem uma presidenta, da ótica da
semântica formal, esse é um fato do mundo e a linguagem é empregada para anunciá-lo.
A linguagem, consequentemente, é um meio de nos ligar ao mundo, à verdade.
Posição oposta possui a semântica da enunciação. De acordo com o
ponto de vista de Ducrot, seu idealizador, o conceito de verdade não é externo
à linguagem; o mundo não existe sema linguagem. Ele apenas existe porque ela
lhe dá concretude. Essa concepção aproxima a semântica de enunciação das linhas
relativistas de conceber o mundo, diferentemente da semântica formal, tida como
objetivista ou realista.
A semântica cognitiva, por seu turno, postula que a linguagem não
possui uma relação direta com o mundo, como crê a semântica formal. Para essa
abordagem, não se pode parear linguagem e mundo. Curiosamente, os seguidores da
semântica cognitiva acreditam que a significação linguística é fruto dos
movimentos que faz nosso corpo ao interagir com o meio que nos envolve. Por
exemplo: usamos expressões relacionadas ao conceito de espaço, como aqui, ali, lá, no teatro, porque nos
movimentamos, desde crianças, por vários locais: do estofado para uma cadeira; do
pai em direção à mãe, etc.
Como se observa, também questões
relacionadas à significação têm sido alvo de novos estudos e novas descobertas
que merecem nossa atenção.
__________________________________
1 OLIVEIRA,
Roberta Pires de.2001. Semântica. In: MUSSALIN, Fernanda e BENTES, Anna
Christina. Introdução À lingüística. Domínios
e fronteiras. Vol. 2. São Paulo: Cortez, p. 17-46.
2 CEGALLA,
Domingos Pascoal. 2010. Novíssima Gramática.
São Paulo: Cia Editora Nacional.
3 CIPRO
NETO, Pasquale e INFANTE,Ulisses. 1997. Gramática
da Língua Portuguesa.São Paulo: Scipione.
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