sábado, 28 de junho de 2014

Algumas linhas sobre a pragmática


Como – provavelmente – todas as áreas do conhecimento humano, os estudos da lingüística dos séculos XX e XXI apresentam uma gama muito diversificada de correntes de pensamento. Encontram-se desde enfoques sobre aspectos mais tradicionais, como morfossintaxe, fonologia / fonética até concepções mais contemporâneas como aquelas que versam sobre análise do discurso, semiótica ou mesmo sobre as teorias da comunicação em seu sentido  lato.

Entre essas tendências mais modernas, encontra-se a pragmática. Assim como as demais abordagens feitas a respeito da língua ou da linguagem, a própria pragmática abriga diferenciadas linhas. Seus seguidores, entretanto, reconhecem um denominador comum a todas elas: a preocupação em “analisar, de um lado, o uso concreto da linguagem, com vistas em seus usuários (....); e, de outro lado, estudar as condições que governam essa prática” (PINTO,2001:47). Em vista dessa convergência, alguns autores sustentam que a pragmática focaliza mais a linguagem do que a língua. Faça-se a distinção: a linguagem, que possui um sentido amplo, seria o instrumento responsável pela comunicação; a língua, também responsável pela comunicação, apresentaria um sistema rigoroso, coercitivo para seus usuários.

Como a pragmática focaliza a linguagem em sua concretização, ao ver de seus seguidores, os fenômenos linguísticos não podem ser encarados como atos meramente convencionais, que se reproduzem sempre da mesma forma. Ao contrário, o ato comunicativo apresenta um  elemento criativo, inovador que o afasta da padronização. Por causa dessa natureza desestabilizadora, que se renova constantemente, é impossível descrever  todas as estruturas linguísticas.  Assim, questões de ordem normativa – como a que diz respeito ao certo / errado – são desconsideradas por essa corrente. Mais  valorizadas são as manifestações não-convencionais, as inusitadas.

Dentre as vertentes da pragmática, podem ser citados: o pragmatismo norte-americano, a teoria dos atos da fala e os trabalhos que, genericamente, podem ser arrolados sob o nome de estudos  da comunicação.

O pragmatismo norte-americano possui forte influência de Charles S. Peirce, que desenvolveu uma teoria bastante complexa, fundamentada em esquemas triádicos, entre os quais se encontra a relação - fundamental para a comunicação humana – estabelecida entre signo, objeto e interpretante, aqui entendido como o usuário, aquele a quem o signo vai dizer algo.

A Teoria dos atos da fala advém de discussões da área da filosofia para quem a linguagem é fonte de solução para problemas filosóficos.

Os genericamente chamados estudos da comunicação unem visões dos dois grupos anteriores.  É entre eles que se encontra uma releitura do “princípio de cooperação” indispensável, segundo alguns autores, para que a comunicação se efetive. Grice chegou a elaborar regras – as implicaturas conversacionais - que dirigem esse espírito cooperativo.

Os atuais representantes dessa linha veem a comunicação como um trabalho social, que se realiza com a participação de todos e, em seu tecido, estão presentes todos os conflitos inerentes à vida comum. Para eles, descrições linguísticas seriam capazes de identificar todos esses conflitos.

Atualmente acredita-se que fazem parte do escopo dos estudos da pragmática: a questão dos dêiticos; análises do papel da linguagem na formação do sujeito; problemas relativos à unicidade e à diversidade linguísticas entre outros tantos. Enfim, nenhuma manifestação da linguagem poderia ser alijada de uma abordagem da pragmática.


Duas indicações de leitura podem completar – e muito – o esboço apresentado aqui. Trata-se do artigo “Pragmática”, de José Luiz Fiorin, publicado no segundo volume da coletânea Introdução à linguística, da editora Contexto; e o estudo também denominado “Pragmática” , de Joana Plaza Pinto, incluso na coletânea homônima – Introdução à lingüística – mas publicado pela editora Cortez.

Nenhum comentário:

Postar um comentário