O conceito
Gramaticalidade é um termo bastante usado na linguística contemporânea.
Ele designa as construções bem formadas da língua. Mas...atenção! Quando se
fala em bem formadas, não se está fazendo referência àquelas compostas de
acordo os padrões da norma culta. Estamos falando de construções aceitas por
uma comunidade lingüística, construídas em consonância com as regras
internalizadas pelos falantes.
Assim, de acordo com esse
princípio, frases do tipo: As menina
acabou perdendo o trem são consideradas gramaticais. Possuem gramaticalidade porque, não obstante serem
um incômodo aos ouvidos de quem está acostumado ao padrão formal do português,
elas são perfeitamente compreensíveis.
Compare agora a frase acima com
esta outra: frios começam dias ficar a
mais os. Certamente, não há usuário do português que aceite esse tipo de
construção como familiar. Temos, então, um exemplo de agramaticalidade, não porque a frase se apresente de modo incorreto
em relação à norma culta de nossa língua, mas porque não está adequada à
gramática que os falantes incorporaram já na infância.
Portanto, é preciso diferenciar
os dois conceitos: se gramaticalidade
relaciona-se ao respeito pelas regras implícitas da língua, àquelas de sentido
amplo, internalizadas pelo usuário, uma frase correta, no sentido comum, relaciona-se ao respeito que ela mostrou
pelas regras de uma das
modalidades da língua que, embora seja a de maior prestígio, não é a única
empregada pela comunidade.
A bibliografia sobre o assunto é
vasta. Caso lhe interesse um livro acessível, consulte o escrito por Ernani Terra
e publicado pela Editora Scipione. Trata-se de Linguagem, língua e fala, uma publicação direcionada para quem, sem
ser especialista, interessa-se por questões de natureza linguística.
A curiosidade
A língua croata, falada na
Croácia, - país que entrou nas manchetes da imprensa por ser o primeiro
adversário do Brasil no Campeonato Mundial de Futebol – pertence ao ramo das
línguas eslavas assim como o russo, o ucraniano, o polaco. Suas raízes mais
longínquas encontram-se no indo-europeu, que também está na origem das línguas
latinas, como o português e o francês, entre outras.
Assim como as línguas ocidentais,
o croata emprega, em sua escrita, o alfabeto latino, mas, diferentemente de
muitos desses idiomas, cada uma de suas letras corresponde a um fonema – o som
que tem um significado dentro da língua.
Em português, essa
correspondência não ocorre. Veja o caso da letra x: ela pode ter o som de /z/, como em exame; de /ks/ como em táxi;
de /s/ como exceção. Essa falta de
correspondência entre fonema e letra – ou grafema – é responsável pelas
dificuldades encontradas por quem tem de aprender o português escrito. O mesmo
fenômeno se verifica em francês, inglês, alemão...
Outra particularidade da língua
croata é que ela apresenta uma declinação. O latim - de onde provêm as línguas
neolatinas, como o francês, espanhol, português – também possuía declinação. Na
modernidade, o russo e o alemão são línguas declináveis, cujas palavras mudam
de forma, dependendo da função sintática que desempenham.
Veja um caso muito primário,
extraído do latim: se alguém quisesse dizer O menino
viu o lobo, teria de construir a frase com as seguintes terminações para as
palavras: Puer videt lupum; mas, se
quisesse dizer O lobo viu o menino, teria
de usar: Lupus videt puerum. Repare
que lupus
(lobo) e puer (menino) mudam de
aspecto. Isso ocorre devido ao papel sintático que possuem na frase: ora são
sujeito; ora, objeto.
É desse tipo mecanismo que faz
uso o croata.
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