quinta-feira, 12 de junho de 2014

Um conceito e uma curiosidade



O conceito

Gramaticalidade é um termo bastante usado na linguística contemporânea. Ele designa as construções bem formadas da língua. Mas...atenção! Quando se fala em bem formadas, não se está fazendo referência àquelas compostas de acordo os padrões da norma culta. Estamos falando de construções aceitas por uma comunidade lingüística, construídas em consonância com as regras internalizadas pelos falantes.

Assim, de acordo com esse princípio, frases do tipo: As menina acabou perdendo o trem são consideradas gramaticais. Possuem gramaticalidade porque, não obstante serem um incômodo aos ouvidos de quem está acostumado ao padrão formal do português, elas são perfeitamente compreensíveis.

Compare agora a frase acima com esta outra: frios começam dias ficar a mais os. Certamente, não há usuário do português que aceite esse tipo de construção como familiar. Temos, então,  um exemplo de agramaticalidade, não porque a frase se apresente de modo incorreto em relação à norma culta de nossa língua, mas porque não está adequada à gramática que os falantes incorporaram já na infância. 

Portanto, é preciso diferenciar os dois conceitos: se gramaticalidade relaciona-se ao respeito pelas regras implícitas da língua, àquelas de sentido amplo, internalizadas pelo usuário, uma frase correta, no sentido comum, relaciona-se ao respeito que ela mostrou pelas regras de  uma das modalidades da língua que, embora seja a de maior prestígio, não é a única empregada pela comunidade.

A bibliografia sobre o assunto é vasta. Caso lhe interesse um livro acessível, consulte o escrito por Ernani Terra e publicado pela Editora Scipione. Trata-se de Linguagem, língua e fala, uma publicação direcionada para quem, sem ser especialista, interessa-se por questões de natureza linguística.

A curiosidade

A língua croata, falada na Croácia, - país que entrou nas manchetes da imprensa por ser o primeiro adversário do Brasil no Campeonato Mundial de Futebol – pertence ao ramo das línguas eslavas assim como o russo, o ucraniano, o polaco. Suas raízes mais longínquas encontram-se no indo-europeu, que também está na origem das línguas latinas, como o português e o francês, entre outras.

Assim como as línguas ocidentais, o croata emprega, em sua escrita, o alfabeto latino, mas, diferentemente de muitos desses idiomas, cada uma de suas letras corresponde a um fonema – o som que tem um significado dentro da língua.

Em português, essa correspondência não ocorre. Veja o caso da letra x: ela pode ter o som de /z/, como em exame; de /ks/ como em táxi; de /s/ como exceção. Essa falta de correspondência entre fonema e letra – ou grafema – é responsável pelas dificuldades encontradas por quem tem de aprender o português escrito. O mesmo fenômeno se verifica em francês, inglês, alemão...

Outra particularidade da língua croata é que ela apresenta uma declinação. O latim - de onde provêm as línguas neolatinas, como o francês, espanhol, português – também possuía declinação. Na modernidade, o russo e o alemão são línguas declináveis, cujas palavras mudam de forma, dependendo da função sintática  que desempenham.

Veja um caso muito primário, extraído do latim: se alguém quisesse dizer  O menino viu o lobo, teria de construir a frase com as seguintes terminações para as palavras: Puer videt lupum; mas, se quisesse dizer O lobo viu o menino, teria de usar: Lupus videt puerum. Repare que  lupus (lobo) e puer (menino) mudam de aspecto. Isso ocorre devido ao papel sintático que possuem na frase: ora são sujeito; ora, objeto.


É desse tipo mecanismo que faz uso  o croata.

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